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Lista de ingredientes comedogênicos: por que você deve ignorá-la!

24 novembro 2019
Provavelmente você já viu por aí uma lista de ingredientes comedogênicos (pequeno exemplo abaixo), onde é sugerido que você deve evitar os óleos ou manteigas vegetais que possuem alto nível de comedogenicidade porque eles podem entupir os seus poros e causar espinhas. 

Lista de ingredientes comedogênicos


Na prática, ao comprar um produto, você verifica a composição em relação à lista de comedogenicidade. Se tiver ingredientes altamente comedogênicos, causará espinhas, se não tiver, não causará. 

Parece simples e infalível, certo? Mas não é assim que as coisas funcionam!

Comedogenicidade – uma questão complicada!


A comedogenicidade em ativos e produtos cosméticos tem sido estudada há décadas, mas se tornou um tópico muito quente nos últimos anos. Atualmente, é comum que as pessoas procurem por “não comedogênico” nos rótulos de produtos que pretendem comprar, esperando que ele não cause danos à pele com tendência a acne. 

Mas, o que realmente significa “não comedogênico”? E qual a garantia de que o produto ou óleo não causará obstrução dos poros?
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Uma análise mais detalhada revela que a comedogenicidade é uma questão complicada e altamente debatida. Com os métodos de testes sem regulamentação real, há muitos buracos e nenhuma garantia!

Definição de comedogênico:


Comedogênico é aquele ingrediente que tem tendência a entupir os poros, bloqueando a excreção do sebo e células mortas da pele, estimulando a formação de cravos e espinhas.

Os fatores que são levados em consideração para determinar a classificação comedogênica são a proporção de ácidos graxos essenciais presentes no óleo ou manteiga.

Em 1979, Albert Kligman, um dermatologista muito conhecido e respeitado, publicou um protocolo destinado à avaliação de ingredientes cosméticos onde media a capacidade de obstrução dos poros. No protocolo, Kligman criou uma escala de comedogenicidade de 0 a 5: 0 não comedogênico, 5 muito comedogênico. 

O que significa "comedogênico" e escala de comedogenicidade


Esse protocolo passou a ser usado para gerar dados e tirar conclusões sobre a probabilidade de entupimento dos poros, mas muitas questões começaram a aparecer quando formuladores experientes perceberam que aquilo que o protocolo previa tinha pouca relação com a realidade.

Como são realizados os testes de comedogenicidade?


Embora não exista uma maneira definitiva de testar a comedogenicidade, o teste da orelha do coelho é, há muito tempo, o padrão-ouro.

Esse teste foi originalmente usado para avaliar os perigos de produtos químicos industriais na década de 1950 e depois entrou no mundo dos cosméticos na década de 1970.

1. Teste na orelha do coelho


Os ingredientes são esfregados na parte interna da orelha de um coelho por duas semanas, em seguida, a produção de cravos é avaliada. 

No entanto, o ponto questionável desse método é que a pele da orelha de um coelho é mais sensível que a pele humana, por isso, reage muito mais rápido aos ingredientes comedogênicos, criando falsos positivos. Dessa forma, os ingredientes não comedogênicos em humanos seriam altamente comedogênicos na pele sensível dos coelhos. 

Em 1996, em um artigo publicado pelo próprio Albert Kligman, foi reconhecido que o teste da orelha de coelho poderia produzir resultados equivocados. 

O problema é que o protocolo ainda está disponível e, se você não conhece o contexto, é muito fácil de se enganar. Até hoje, ainda existem pessoas usando os dados gerados no teste da orelha de coelho para avaliar como são as formulações comedogênicas. 

Se você procurar um pouco, rapidamente os encontrará. Pesquise por “ingredientes comedogênicos” e vários sites terão uma tabela de classificações comedogênicas – supostamente - para ajudá-lo a escolher os produtos certos!

2. Testes em seres humanos


Testes comedogênicos também são feitos em seres humanos. Seria este o método mais óbvio, certo? Infelizmente não é assim... 

Os ingredientes são aplicados na pele das costas e cobertos com um curativo, fazendo com que eles penetrem profundamente e mais rápido. Após 4-8 semanas, é realizada uma biópsia. 

Aqui também há questionamentos:

  1. A pele das costas é muito diferente da pele do rosto - por exemplo, a pele do rosto tem muito mais folículos capilares, é mais reativa e exposta a mais luz solar.
  2. Na vida real, as pessoas não criam barreiras oclusivas – como o uso de curativos – após aplicar um produto no rosto.
  3. Alguns testes utilizam a pele do rosto, mas em pessoas com pele oleosa e/ou com tendência a acne. As pessoas com pele normal, seca, sensível ou mista reagirão da mesma forma?

Ingredientes comedogênicos não produzem produtos comedogênicos!


Mesmo que um ingrediente seja comedogênico por si só, ele pode não ser comedogênico em um produto. E mesmo que um produto não contenha ingredientes comedogênicos, ele ainda pode ser comedogênico na pele. 

É preciso considerar a porcentagem dos ingredientes dentro de uma fórmula, porque as formulações cosméticas não são simplesmente uma soma de seus ingredientes! 

O óleo de coco, por exemplo, é o mais citado como comedogênico e, na concentração de 100%, ocupa o nível 4 da classificação comedogênica. 

No entanto, quando está em um hidratante na concentração de 1-2% com vários outros ingredientes, altera muito o resultado e não significa que toda a fórmula final também será altamente comedogênica. Aqui eu estou falando de diluição!

“Substâncias fortemente comedogênicas quando testadas limpas (por si só) ou em altas concentrações tornam-se não-comedogênicas após diluição suficiente. ” - Kligman, 1996

Outras questões a considerar:


Algumas considerações extras tornam a lista de ingredientes comedogênicos e a abordagem de "verificar cada ingrediente do seu produto cosmético" ainda mais insuficiente: 

  • O método no qual um ingrediente é extraído e processado desempenha um papel fundamental. Se um ingrediente foi refinado, hidrogenado ou fracionado pode alterar drasticamente seu nível de comedogenicidade.
  • A química individual da pele pode determinar a influência da comedogência de um ingrediente. Além disso, o ambiente ao qual você está exposto desempenha um papel fundamental na maneira como a sua pele reagirá a determinado ingrediente. Dessa forma, o que pode ser bom para uma pessoa, pode se tornar extremamente irritante para outra.

Nas palavras de Albert Kligman, pioneiro da escala de comedogenicidade:

“Não é possível determinar, a partir da leitura dos ingredientes, se um determinado produto será acnegênico ou não. O que importa, apenas, é o comportamento do produto em si.” 

CONCLUSÃO


A minha ideia ao escrever este post é informar que apenas porque um produto possui um ingrediente comedogênico (baseado na famosa lista) não o torna automaticamente um produto ruim.

A escala de comedogenicidade não deve ser usada como regra e você não precisa descartar um produto por causa dela!

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Referências: 

Protocolo original de Albert Kligman de 1979 - https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/157151

Z Draelos and J DiNardo, A re-evaluation of the comedogenicity concept, J Am Acad Dermatol 54 3 507–12 (2006)

J Fulton, S Bradley, et. al., Non-comedogenic cosmetics, Cutis 17 344–51 (1976)

A Kligman and O Mills, Acne cosmetics, Arch Dermatol 106 843–850 (1972)

2 comentários:

  1. Geeente que confusão isso! Eu raramente olho se é comedogênico, mas fujo das coisas mais oleosas. Acho que a gente tem o pior dos resultados nos testes, ou seja, na prática pode ser bem mais leve a realidade. Só fiquei surpresa pelo óleo de rosa mosqueta, que apesar de ter nível 1, ouço muito falar em combate à acne :O

    Beijinhos
    tipsnconfessions.blogspot.com

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    Respostas
    1. É aquela questão: as condições individuais da pele e o ambiente ao qual ela é exposta influencia muito o resultado. O óleo de rosa mosqueta, com base no famoso teste, não é comedogênico, é recomendado em tratamento contra acne, entretanto, muita gente com acne experimentou uma exacerbação no quadro. Eu o amo, é um dos meus óleos favoritos, mas realmente não funciona com todo mundo!

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